Lançamentos de poluentes na bacia de captação do rio Guandu

Na manhã do último dia 28 de agosto de 2023 a região metropolitana da cidade do Rio de Janeiro amanheceu com a informação sobre interrupção total do fornecimento de água potável, devido à presença de uma “espuma branca” na captação de água bruta, no Rio Guandu, na Estação de Tratamento de Águas Guandu (ETA Guandu), da CEDAE.
Mas o que de fato seria esse material encontrado? Foi a pergunta feita por toda a população. A CEDAE noticiou que a “espuma branca” seria derivada da presença de surfactantes, ou compostos tensoativos, presentes em detergentes.

Essas substâncias são agentes químicos utilizados, por exemplo, em produtos utilizados para limpeza em geral, como por exemplo, os detergentes domésticos, por sua capacidade de “envolver” a sujeira e retirá-la junto com a água a partir de um processo chamado emulsificação. Este comportamento ocorre porque as moléculas de surfactante consistem em dois componentes, um grupo semelhante à água (hidrofílico) e um grupo que apresenta aversão à água (hidrofóbico).

O uso do surfactante pode gerar espuma nos rios e afetar as propriedades físico-químicas e biológicas dos solos por permanecer no meio ambiente durante um longo período, quando acima do permitido pela legislação. Por outro lado, na saúde, os tensoativos, dependendo da concentração, podem desencadear reações alérgicas nos olhos e na pele, quadro que pode ser agravado quando ocorre exposição a elevadas concentrações.

No caso do lançamento na bacia de captação do Guandu e de acordo com a reportagem do jornal O Globo em 29 de agosto de 2023, laudos laboratoriais, emitidos pela CEDAE, apresentaram concentrações entre 0,6 mg/L a 1,0 mg/L de surfactantes em diferentes amostras na captação da ETA Guandu ao longo do período de interrupção do abastecimento. A CEDAE imediatamente adotou os protocolos de contingência e segundo informações da companhia, somente retornou à captação de água após os níveis de concentração deste composto atingirem a concentração de 0,1 mg/L e atender aos padrões de potabilidade, de modo que não oferecessem riscos à saúde (Portaria GM/MS Nº 888, de 4 de maio de 2021).

Esses resultados também já estariam de acordo com a Resolução CONAMA N° 430/2011, que dispõe sobre as condições e padrões de lançamentos de efluentes. Conforme a Resolução, a concentração máxima para as substâncias tensoativas que reagem com o azul de metileno é de 0,5 mg/L LAS.

Ressalta-se que parte da poluição existente no Rio Guandu acaba passando pelo processo de autodepuração natural do rio (capacidade de estaurar suas características ambientais naturalmente, devido à decomposição de poluente). Mas é importante destacar que próximo ao ponto de captação da ETA Guandu ainda ocorre despejo de águas poluídas, com esgoto doméstico e industrial, proveniente dos rios Poços, Rio Queimados, Rio Ipiranga e córregos de Seropédica, de acordo o Relatório Executivo do Plano Estratégico de Recursos Hídricos das Bacias Hidrográficas do rio Guandu, da Guarda e Guandu Mirim, Comitê Guandu.

Dessa forma, o lançamento de qualquer composto que prejudique o meio ambiente e a saúde humana precisa ser investigado e os responsáveis serem identificados e punidos, conforme a legislação em vigor (lei No 9605 de 12 de fevereiro de 1998).