Dia Mundial da Água

Autoria: Michelle R. C. Fortunato, com contribuições de Sheila B. Martins e José Marcus de O. Godoy

Todas as preocupações mundiais sobre desafios hídricos vêm à tona no “Dia Mundial da Água”. Embora exista o reconhecimento de que a água é um recurso essencial para a funcionalidade e manutenção de inúmeros sistemas químicos e bioquímicos, alimenta as necessidades humanas básicas, apoio à saúde, sustento à segurança alimentar e energética, influência para a economia global, manutenção de empregos e promoção do desenvolvimento econômico, a água como fonte de paz e prosperidade está em crise.

Segundo relatório da ONU de 2024 sobre o desenvolvimento da água, 27,4% da população mundial não teve acesso à água potável em 2022, 43,6% não teve acesso à saneamento e mais de 37,4% podem estar sob risco de saúde devido a padrões ineficientes da qualidade da água. Esse cenário é de risco global, já que a vulnerabilidade do acesso à água e saneamento por expressiva parte da população traz impactos negativos, especialmente para países menos desenvolvidos, que têm a indústria da água como pilar econômico. Por outro lado, algumas evidências oficiais sugerem melhora em 2020 quanto à eficiência mundial no uso da água, especialmente na agricultura (20%) e demais setores (13%).

Segundo dados do Censo 2022 do IBGE, 3% da população brasileira não teve abastecimento de água adequado e 24% não teve acesso ao descarte de esgoto. Em contrapartida, dados dos indicadores de acesso à água e saneamento sugerem que 86,6% acessam a rede geral de água. Seja como for, os cenários mundial e brasileiro indicam que as metas dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável sobre as questões da água não estão sendo atendidas, particularmente quanto ao ODS6, que busca a gestão sustentável da água e do saneamento para todos.

Nesse sentido, as preocupações são muitas. Quanto ao desperdício de água, ressalta-se a iniciativa brasileira recente sobre a Política Nacional de Racionalização no Uso e de Combate ao Desperdício de Água que será integrada aos programas hídricos já existentes. Quanto aos eventos extremos de seca e inundações que podem causar mortes e perdas econômicas, o aquecimento global altera o ciclo natural da água impactando no clima e nas condições meteorológicas. Além da evolução da poluição, principalmente provocada pelos países ricos, que avança com maior complexidade na presença dos contaminantes emergentes, além da presença de bactérias mais resistentes aos antibióticos. Não menos importante é a questão da escassez de água quanto à localização das bacias hidrográficas e lacustres transfronteiriças. Segundo a ONU, apesar de 40% da população mundial viver próximo às fontes hídricas, poucos países mantêm acordos internacionais de uso, o que pode intensificar os conflitos locais.

As instabilidades sociais provocadas pelas questões da água impactam nas condições de vida, aumento da insegurança hídrica e riscos à saúde. Até o momento não há como mensurar uma “pegada hídrica” que promova a paz e a prosperidade, já que esses conceitos também podem incluir o bem-estar social e não apenas as condições econômicas ou a integridade ambiental dos países. Os inúmeros benefícios da água ainda são difíceis de mensurar apesar do custo x benefício ser vantajoso a todas as nações.