O papel do químico no incentivo ao consumo consciente

A maior parte dos consumidores não está preocupada se determinada empresa possui uma forte relação com os atributos de sustentabilidade ou circulares, mas com a relação existente entre preço e qualidade. A parcela da população disposta a pagar mais por produtos, por exemplo, com maior durabilidade e reparabilidade, ainda é pequena, principalmente em países subdesenvolvidos e em desenvolvimento, como o Brasil, onde o preço baixo é, em sua grande maioria, um fator determinante para compra.

Entretanto essa forma de pensamento precisa ser modificada se queremos ter um planeta e qualidade de vida mais saudável. O consumidor possui um papel significativo e precisa ter consciência sobre suas escolhas e descarte de resíduos pós consumo ou de produtos em fim de vida útil, como os eletrônicos.

A base do consumo consciente é a conscientização de que o uso de recursos naturais, bens materiais e energia implica custos econômicos, ambientais e sociais, e que a contribuição de todos é essencial para garantirmos a sustentabilidade do planeta. Um outro ponto significativo é a necessidade de reduzir a geração de resíduos domiciliares visando diminuir os danos ambientais provocados tanto pelos lixões quanto pelos descartes incorretos.

Apesar do aumento pelo consumo consciente no mundo, incluindo o Brasil, a parcela da população que opta por escolhas mais sustentáveis ainda é muito pequena. Esses consumidores também têm pressionado as empresas a serem mais transparentes em suas ações socioambientais, assim como priorizam as iniciativas de pequenos produtores e da comunidade local.

Fatores econômicos, como mencionado acima, são essenciais para a decisão de compra. No entanto, existem fatores culturais e sociais que precisam ser levados em consideração. Primeiramente, o consumidor precisa perceber valor e vantagens na oferta de serviços e não mais em produtos. Nesses novos modelos de negócio, produto como serviço ou plataforma de compartilhamento, a propriedade do produto é da empresa que fica responsável, inclusive, pela manutenção dos produtos oferecidos e em dar destino adequado no final da vida útil. O consumidor passa, então, a ser um usuário e evita, assim, a subutilização. Caso não seja possível se tornar usuário de um determinado produto, o consumidor deve, como segunda opção, dar preferência à aquisição em produtos mais duráveis, que possuam opções de reparo e reutilização e estejam projetados para a desmaterialização e reinserção na cadeia produtiva (SCORZELLI, I.B., 2023).

Parte da solução está no desenvolvimento de negócios que devem priorizar os modelos de produto como serviço e de plataforma de compartilhamento. Assim como no desenvolvimento de produtos que possam ser restaurados e remanufaturados, que sejam facilmente desmontados no fim de sua vida útil e incentivem a criação de um hábito que leve o consumidor a reparar seus produtos ou adquiri-lo de segunda mão. Porém, ainda existe muita resistência, por parte do consumidor, em não ter mais a posse de um determinado produto, da mesma forma que ainda há o questionamento se vale a pena consertar determinado produto ou investir em um objeto de segunda mão. Geralmente, o que prevalece é a compra de um produto novo. Essa mentalidade precisa ser alterada objetivando o aumento da demanda por produtos como serviços ou plataformas de compartilhamento.

O químico tem um papel fundamental em diversos pontos da rede de valor que envolve o consumo consciente, mas merece destaque o apoio ao desenvolvimento de novos produtos e modelos de negócios, como, por exemplo, na produção de produtos de limpeza a partir de ingredientes renováveis e concentrados que eliminam a adição de água em sua produção e muitas vezes envasamento em embalagens plásticas, assim como o novo modelo de negócio produto como serviço, chamado de chemical leasing.

O chemical leasing é baseado em desempenho para gestão sustentável de produtos químicos, do qual a Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (ONUDI) é uma forte defensora. Esse modelo pode ajudar as empresas a otimizarem seus processos, principalmente ajudando trabalhadores e engenheiros a usarem processos com menor uso de recursos quando se trata de materiais, produtos químicos, energia e água (ONUDI, 2023).

Diferente do modelo de negócios convencional, onde quanto mais você vende, mais você ganha, no chemical leasing, o fornecedor não vende quantidades e sim desempenho, a função do produto químico. Este é o serviço prestado pelo produto químico ou a finalidade para a qual o produto químico é aplicado. Por exemplo, a função do produto químico pode ser limpar ou desengordurar peças metálicas ou proteger uma superfície. O pagamento é então feito de acordo com as unidades funcionais, ou seja, o número de peças limpas ou a extensão da área revestida.

Esse modelo inovador ajuda a indústria química e os fornecedores de produtos químicos, a partir do fortalecimento das relações comerciais entre parceiros, a obterem uma melhor compreensão de como melhorar o produto ou processos (químicos), como abordar os mercados e, consequentemente, atender melhor às mudanças regulatórias.

Por fim, o chemical leasing pode ser considerada uma ferramenta eficiente que auxilia os negócios a caminharem lado a lado com as principais abordagens de sustentabilidade global, como a economia circular e contribui para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, minimizando o uso de recursos e energia e a poluição.

Referências Bibliográficas:
SCORZELLI, I.B, Transição para Economia Circular: Um caminho para a Agenda 2030, Selo editorial 2030, Hakol Instituto Ambiental, 2023.
UNIDO, Chemical Leasing, Acesso pelo link em 29 de novembro de 2023: https://chemicalleasing.com/