Rejeitos na Mineração e o Desenvolvimento Sustentável

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU) (1), em 2030 a população mundial deverá atingir 8,6 bilhões e, em 2050, 9,8 bilhões, com um aumento gradual na porcentagem de habitantes em áreas urbanas. Diante deste cenário, podemos dizer que o crescimento da urbanização e adensamento populacional estão fortemente correlacionados ao consumo de metais e minerais. 

Minerais e metais são utilizados como matérias primas na indústria da construção civil (cimento, ferro, aço, alumínio, cobre e ligas), implementos para a agricultura (fósforo e calcário), como componentes essenciais de painéis solares e energia eólica (lítio, cobalto, cádmio e elementos terras raras), dentre outros. 

O crescente aumento das taxas de consumo de recursos tem despertado a consciência ambiental nas últimas décadas e tem demonstrado que o comportamento atual, com o consumo de fonte de recursos naturais, é capaz de provocar um colapso ecológico daqui a algumas décadas. Já consumimos mais do que a natureza é capaz de repor e nossos recursos finitos estão se exaurindo. Alguns elementos importantes tendem a se esgotar nos próximos 50 anos, como é o caso do antimônio, ouro, molibdênio, zinco (2).

O setor mineral tem grande importância social e econômica para o país e hoje é responsável por quase 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB). Dados estatísticos confirmam a contribuição do setor mineral para um saldo positivo em relação ao comércio exterior em 2020. O aumento foi de 31%, passando de quase US$ 25 bilhões, em 2019, para mais de US$ 32 bilhões, em 2020. Nesse cenário, merecem destaque as exportações de minério de ferro e ouro, que tiveram variação positiva de 16% e 36% (em US$), respectivamente, na comparação com 2019 (3).

Segundo Jones e Boger (apud 4) a indústria mineral é a maior produtora mundial de resíduos, produzindo cerca de 65 bilhões de toneladas/ano, dos quais 14 bilhões são rejeitos constituídos majoritariamente por partículas finas, menores que 150μm. Essas, por sua vez, são consideradas as principais responsáveis pelo impacto ambiental causado pelas atividades de mineração e podem ser extremamente custosas e danosas aos ecossistemas naturais e humanos.

Outros impactos ambientais significativos advêm do rompimento de barragens, como os que ocorreram, em novembro de 2015, na barragem do Fundão, em Mariana (MG), e, em janeiro de 2019, em Brumadinho (MG), causando a morte de pessoas, animais, vegetação (nativa e áreas de preservação permanente), poluição do rio e do mar. 

As atividades de mineração produzem dois tipos de resíduos: os estéreis e os rejeitos. Os estéreis são materiais escavados, gerados pelas atividades de extração (ou lavra) produzidas no decapeamento da jazida e não possuem valor econômico para o empreendimento, e sua disposição, geralmente, é realizada em pilhas. Por outro lado, os rejeitos são resultantes de processos de beneficiamento e podem conter elevado grau de toxicidade, além de partículas dissolvidas e em suspensão, metais pesados e reagentes (5). Muitas vezes esses metais estão associados a problemas de contaminação não só dos ecossistemas como, também, do ser humano. E, para pesquisar as concentrações desses metais no meio ambiente, urge que sejam conhecidas as suas toxicidades e os processos que provocam a sua percolação nos biomas e que podem ser absorvidos pelo ser humano. Com isso, será possível agir de maneira preventiva para evitar novas catástrofes ambientais.

Dessa forma, as empresas mineradoras sofrem muita pressão decorrente do elevado volume de resíduos gerados e pela necessidade de buscar soluções por meio de inovações tecnológicas e da adoção de práticas socioambientais que promovam a redução dos riscos de acidentes e desastres com barragens de rejeito.

Os investimentos no setor têm sido, principalmente, em aumento da recuperação dos minérios de interesse; aproveitamento e aglomeração de finos e ultrafinos; recuperação e reaproveitamento de resíduos e elementos dispersos, incluindo processos para destinação alternativa de uso; tecnologias de baixo risco ambiental para deposição de resíduos; recuperação, reutilização, redução ou eliminação de água utilizada nos processos e monitoramento e controle de barragens e riscos ambientais (5).

Alguns exemplos de produtos oriundos do reaproveitamento de resíduos são: blocos intertravados a base de cimento Portland, onde o rejeito substitui a areia comum e a utilização da caulinita, presente em larga escala em mineração de areia, para a produção de um novo material, chamado geopolímero (6). 

Os estudos e o desenvolvimento tecnológico, assim como as práticas já existentes dentro da própria cadeia produtiva da mineração para otimizar seus processos, têm direcionado esforços do setor para alinhar suas operações à sustentabilidade e a transição para economia circular. 

A Câmara Técnica de Meio Ambiente do Conselho Regional de Química – Terceira Região (CRQ-III) reforça a importância da atuação dos químicos e engenheiros químicos no desenvolvimento de tecnologias inovadoras que possam auxiliar no melhor aproveitamento dos resíduos e na minimização do uso de recursos hídricos no processo e na elaboração de tecnologias mais sustentáveis de extração de minérios, além da atuação em diversos serviços referentes ao monitoramento ambiental da atividade. 

Referências Bibliográficas:

  1. Zambelli, B., Economia Circular de Metais, Disponível em: https://www.apontepronorte.org/post/economia-circular-de-metais. Acesso em: 20 de junho de 2021
  2. CNI, Economia Circular: Oportunidades e Desafios para a Indústria Brasileira. Brasilia, DF: Confederação Nacional da Indústria, 2018.
  3. MME, Desempenho Desempenho do setor mineral em 2020 supera expectativas. Disponível em: https://www.gov.br/pt-br/noticias/financas-impostos-e-gestao-publica/2021/02/desempenho-do-setor-mineral-em-2020-supera-expectativas#:~:text=O%20faturamento%20do%20setor%20mineral,casa%20dos%20R%24%20209%20bilh%C3%B5es.&text=O%20aumento%20foi%20de%2031,%24%2032%20bilh%C3%B5es%2C%20em%202020. Acesso em 01 de julho de 2021
  4. Gomes, A.C.F, ESTUDO DE APROVEITAMENTO DE REJEITO DE MINERAÇÃO, Dissertação de mestrado, UFMG, 2017
  5. Mesquita, P.P.D., Carvalho, P.S.L. e Orgando, L.D., Desenvolvimento e inovação em mineração e metais,  BNDES Setorial, 43, pp. 325 – 361
  6. CDTN, Imobilização e Aproveitamento de Resíduos da Mineração podem virar um bom Negócio, Disponível em: https://www.cdtn.br/ultimas-noticias/121-newsletter/334-imobilizacao-e-aproveitamento-de-residuos-da-mineracao-podem-virar-um-bom-negocio. Acesso em 08 de julho de 2021