Os Impactos dos Fogos de Artifícios ao Meio Ambiente

Os fogos de artifício, também chamados de estrelas pirotécnicas, têm seu uso, no mundo inteiro, para diversas finalidades, principalmente em comemorações e cerimônias. A queima de fogos de artifício, uma prática bastante apreciada como espetáculo, pode causar danos irreversíveis aos animais, ambiente e pessoas, podendo ser entendida como uma forma de poluição atmosférica e sonora.

Como poluição sonora, a queima de fogos de artifícios causa aos animais reações comportamentais como estresse e ansiedade. Há casos que se resolvem apenas com o uso de sedativos ou podem culminar em danos físicos e até morte. Entretanto, como na maioria das vezes, os fogos de artifício são utilizados no período noturno, os efeitos causados aos animais (principalmente os silvestres) são difíceis de serem percebidos e quantificados, o que indica que os impactos nocivos dessa atividade nos animais são subnotificados. O animal com medo procura se afastar do barulho tentando se esconder dentro ou embaixo de móveis ou espaços apertados; pode tentar fugir pela janela, cavar buracos; tornar-se agressivo; apresentar salivação excessiva, respiração ofegante, diarreia temporária; urinar ou defecar involuntariamente. As aves, por exemplo, podem abandonar seu ninho em revoada. Durante a tentativa de fuga do barulho causado pelos fogos de artifício, podem acontecer acidentes como atropelamentos, quedas, colisões, ataque epilético, desnorteamento, surdez, ataque cardíaco (principalmente em aves) ou o desaparecimento do animal, que pode percorrer longas distâncias em estado de pânico e não conseguir retornar ao seu local de origem (LEGNAIOLI, 2022).

Ainda, segundo Legnaioli (2022), em humanos, a queima de fogos de artifícios pode causar o amputamento de membros, estresse nas crianças, incômodo nas pessoas em leitos de hospitais, ataque epilético, desnorteamento, surdez, ataque cardíaco e morte. O barulho de fogos de artifício é nocivo principalmente para as pessoas com o Transtorno do Espectro do Autismo, que podem ficar extremamente incomodadas.

De acordo com dados do Ministério da Saúde, o Sistema Único de Saúde (SUS) registrou, entre 2019 e 2022, 1548 internações por ferimentos causados por fogos de artifício, à media de um caso por dia. E no período de janeiro a setembro de 2024, foram registrados 288 internações e atendimentos, 6% a mais que o registrado para o mesmo período de 2023. Em 2024, médicos da Sociedade Brasileira de Cirurgia de Mão (SBCM) emitiram, inclusive, um alerta sobre os riscos de acidentes graves no manuseio de fogos de artifícios, que podem causar lesões sérias, como queimaduras de terceiro grau, traumas ósseos, amputações e até mesmo a morte.

No que tange à poluição ambiental, os fogos-de-artifício causam uma elevada poluição atmosférica em um curto período, deixando partículas de metal, toxinas perigosas, produtos químicos nocivos e fumo a pairar no ar.  Eles utilizam sais de diferentes íons metálicos misturados com um material explosivo. Quando incendiados, emitem diferentes colorações. Por exemplo: sais de sódio emitem cor amarela, de bário, cor verde, e de cobre, cor azul. Algumas destas toxinas nunca chegam a decompor-se completamente, permanecendo no ambiente e envenenando tudo o que contactam. As principais consequências para a saúde humana, decorrentes da proliferação destas partículas, principalmente as finas (com menos de 2,5 milionésimos do metro), são as doenças respiratórias e cardiovasculares, englobando principalmente ataques cardíacos e acidentes vasculares cerebrais (AVC), segundo a Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA). Entre os resíduos da queima, suspensos no ar, encontram-se compostos de sódio, potássio, bário, cálcio, chumbo, antimônio, cromo, além de percloratos e gases, como os dióxidos de nitrogênio e enxofre (BRUNNING, 2017).

Francisco Ferreira, da associação Zero, em declarações ao Diário de Notícias, enfatizou que o fogo-de-artifício tem efeitos particularmente nocivos na qualidade do ar, com repercussões dramáticas para a saúde. Os níveis de partículas finas na atmosfera chegam a triplicar em épocas festivas. De acordo com o ambientalista, os maiores riscos associados ao fogo-de-artifício são mesmo para a saúde pública. As partículas maiores permanecem nas vias respiratórias superiores, não sendo tão problemáticas. Já as finas, chegam aos pulmões, estando associadas a graves problemas de saúde, adverte (GONÇALVES, 2019).

Os fogos de artifícios não têm uso apenas recreativo; eles são utilizados para afugentar aves das áreas de aeroportos, com a finalidade de evitar acidentes com aeronaves e são utilizados também para reacender chamas apagadas de fair (sistema de queima de gases) de plataformas de extração de petróleo. Os profissionais da Química possuem um papel fundamental nos estudos de avaliação da poluição atmosférica, causada pela queima de fogos de artifícios e no processo de informação de como esta ocorre e de seu impacto na qualidade do ar e consequentemente da sua influência na saúde pública; de forma a fomentar uma necessária discussão a respeito da proibição completa destes, como uso recreativo, incluindo os que apenas produzem barulho; em um processo semelhante ao que ocorreu com outro evento espetacular, mas de grande risco, que foi a proibição de soltar balão.

Referências:

LEGNAIOLLI, S. Queima de fogos de artifício: espetáculo não compensa danos – eCycle – 2022. Disponível em: https://www.ecycle.com.br/barulho-de-fogos-de-artifícios

BOCHINNI, Bruno. Médicos alertam para acidentes com fogos de artifícios nas festas. Agência Brasil, 2024. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2024-12/medicos-alertam-para-acidentes-com-fogos-de-artificios-nas-festas

BRUNNING, A. The Chemistry of Firework Pollution. Disponível em: www.compoundchem.com. Acesso em: 1 dez. 2017. Adaptado.

GONÇALVES, S. Fogo-de-artifício: A mais vistosa ameaça para o clima e a saúde. Diário de Notícias, 2019. Disponível em: https://www.dn.pt/vida-e-futuro/fogo-de-artifício-a-mais-vistosa-ameaça-para-a-saude-humana-11663282.html .